Criar pássaros é uma arte - Consanguinidade x Seleção

Por
Stênio Anjos Ferreira

Dizem que Todos os caminhos levam a Roma. Será sempre verdade? A estrada evolutiva também tem muitos entroncamentos e às vezes pode nos levar a um abismo sem volta, ou a estradas com muitas e novas possibilidades. Ao se fazer cruzamentos dirigidos estamos tirando das mãos da natureza a possibilidade de seleção natural, e assumimos a tarefa de tentar fazer melhor ou, no mínimo, não errar muito e quem sabe realmente evoluir para melhor. A responsabilidade é grande e o risco de errar, maior ainda. Daí a afirmação que criar pássaros é uma arte.

Quando escolhemos o uso da técnica de cruzamentos consanguíneos, queremos na verdade diminuir as possibilidades de propagação de genes indesejáveis, procurando determinada pureza para fatores que consideramos benéficos e, principalmente, estamos considerando como sendo o caminho mais curto e quem sabe o mais garantido.

Se a consanguinidade diminui o patrimonio genético em curto espaço de tempo, certamente ela o fará para os genes indesejáveis e também para os benéficos. Não sabemos quantos nem quais, mas temos a certeza que de fato diminui os elementos de um conjunto que não sabemos o tamanho.

Se a principal consequência de contínuos cruzamentos consanguínios é o estreitamento genético, a cada novo cruzamento que fazemos, mais diminuímos o conjunto de variedades de genes. Com isso, podemos estar correndo o risco de sobrar pouca variação.

Em alguma premissa temos que acreditar para podermos continuar desenvolvendo o pensamento. Ao se concordar que o método diminui as possibilidades genéticas, também devemos considerar a possibilidade de aumento de fragilidade. Por observação, sabemos que a natureza não perdoa seres fragilizados e os elimina sem dó nem piedade.

Também somos obrigados a concordar que a consanguinidade aumenta a proporção de pares de genes homozigotos, diminui a de heterozigotos e que genes dominantes quando no estado de homozigoto provoca o aumento do grau de letalidade (morte de embriões).

Outra possibilidade de raciocínio é que ao se chegar a determinado ponto, a coisa se estabiliza e não há mais mudança na variedade de genes. Se a premissa for verdadeira e se aonde se chegou é o lugar que se queria chegar, Bingo!, temos o ser puro que tanto queríamos e vamos multiplicá-lo, quem sabe, infinitamente. Seria como o moto-contínuo que muitos cientistas procuraram e, infelizmente, concluiram que a cada novo ciclo sempre se perdia alguma energia, embora alguns afirmaram até o fim que não se perdia nada.

Então nunca devemos usar o método de cruzamentos consanguínios. Certo?.... Não necessariamente! Podemos, em circunstâncias extremas, concluir que o processo é viável. Estaremos fechando o sangue da prole e temos, com alguma periodicidade, que nos preocupar em abrir o sangue com a introdução de sangue novo e possivelmente fechar novamente. Tudo isso é muito arriscado e deve-se ter controles rigorosos do material genético que se tem em mãos, o que não elimina o risco do fracasso com a predominância de genes indesejáveis.

Não podemos recomendar a utilização do método para todos os criadores, principalmente como dogma a ser seguido. Já pensaram quanto sangue ruim não se vai fixar? Ninguém pode garantir que a maioria terá o cuidado de abrir e fechar o sangue, muitas vezes fica mais fácil ligar o piloto automático e deixar rolar.

Sabe-se que são poucos os criadores que dispõe de verdadeiros craques. Muitas vezes erramos na avaliação e super valorizamos as características dos nossos queridos pássaros, talvez até por puro sentimentalismo.

Seria muito mais seguro adotar o método da seleção por semelhança de características desejáveis, trabalhando com cruzamentos abertos com grande variedade de sangue, por exemplo: Macho de fibra x Fêmea filha de outro pássaro de fibra com baixo grau de parentesco, e assim por diante. Aparentemente o caminho é mais longo. Em compensação, ganha-se em sangue e também no maior número de possibilidades de cruzamentos futuros, garantindo-se alta rusticidade e maiores possibilidades de preservação.


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Fonte: Bicudário Campim Navalha

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